quinta-feira, 12 de julho de 2012

Relação de pais e filhos adolescentes

Essa semana tenho pensado muito na relação pais e filhos, por uma série de motivos que não cabem relatos aqui, vejo que há uma significativa falta de ajuste nessa relação, refletindo diretamente no comportamento dos adolescentes, pois eles perdem alguns referenciais, que são de extrema importância para o desenvolvimento.
Creio que a crônica abaixo do Comportamentista Luiz Alca de Sant'Ana auxilie na reflexão dos pais.


08/07/2012 
Idêntica fragilidade 

   Não é a primeira vez aqui na página que falamos do assunto em nome do desencontro de filhos adolescentes que, ao contrário do que se pensa, estranham o comportamento moderninho e equiparado a eles, de seus pais. Como o libelo de uma garota de 13 anos, cuja mãe só pensava no "shape" que implorava "quero uma mãe gordinha". Lembram-se disso?
   Desta vez é Mariana (nome suposto) de 19 anos que manda o e-mail. Fala também em nome do irmão, de 17. São filhos de pais separados e moram com a mãe, numa convivência até legal, segundo ela, mas que incomoda ambos. "Sabe, cara, meus pais agem como irmãos da gente, pedem pra chamá-los pelo nome e não admitem "pai" e "mãe". Concordo, meu, estão superbem, são jovens ainda, mas, caramba, são nossos pais..." 
   E Mariana segue contando que a mãe, de 42 anos quer ir com ela para a balada nos fins de semana e quando não vai, acaba cruzando com a jovem nos mesmos barzinhos freqüentados (deixou de ir por isso). E que o pai, de 45 faz parte de um conjunto e está se achando um garotão pelo modo de vestir e agir, além de impor uma namorada quase da idade dela. "Dá para sacar que a gente queria pais como os dos nossos amigos? Demorou, meu. Ou estou sendo injusta e...(usou um adjetivo não publicável). Mas não sou só eu, cara, as minhas amigas também estranharam a parada da minha mãe quando ela saiu com um carinha amigo e sei que zoaram por trás de mim. Morro de vergonha". 
   Esse é o típico sinal dos tempos atuais, um prato cheio para qualquer comportamentalista. Sem dúvida, faz parte da ciclicidade: enquanto nossos pais reclamavam da opressão sofrida em família, enquanto a minha geração se rebelava contra certas regras de horário - aí que a gente não estivesse em casa à meia noite e meia, no máximo, hora que eles saem hoje - e das imposições, os adolescentes atuais estranham o contrário. Por incrível que possa parecer, sentem falta de mando, de determinação, como disse bem, a psicóloga Rosely Sayão, numa matéria que deu o que falar, semana passada.
   É absolutamente compreensível o conflito de Mariana e do irmão. O universo jovem existencial comprova que, apesar de tudo, a turma gosta de pais que se preocupem, que estabeleçam algumas regras, para poder discutir, até para ser quebradas Sentem-se amados, envolvidos no interesse, por mais que chiem. Por outro lado, há que se entender esses pais, ainda no auge do vigor e do desejo, que estão buscando seu caminho de prazer e realização; talvez, vivendo agora o que não viveram quando jovens, com certeza por terem se unido cedo demais. 
   Uma conclusão é clara por mais que tudo pareça virado de cabeça para baixo: pai e mãe são pais e não amiguinhos, muito menos, companheiros de balada. E os filhos têm enorme dificuldade de entender nessa linda adolescência que eles têm as mesmas necessidades, dúvidas e fraquezas. Para os filhos, os pais são modelos de força, segurança e apoio. 
   Só muito mais tarde, os filhos conseguem entender a idêntica fragilidade, aquela que domina a todos. Sempre digo que o fato de sermos pais, avós, bisavós, não nos tira a necessidade de continuarmos filhos, seres necessitados de proteção e de autoafirmação.
   É quando outro tipo de encontro afetivo se faz: a troca de humanidades, resultado lindo e amplo do entendimento dessa idêntica fragilidade. Por enquanto, não dá.

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