Creio que a crônica abaixo do Comportamentista Luiz Alca de Sant'Ana auxilie na reflexão dos pais.
08/07/2012
Idêntica fragilidade
Não é a primeira vez aqui na página que falamos do assunto em nome do desencontro de filhos adolescentes que, ao contrário do que se pensa, estranham o comportamento moderninho e equiparado a eles, de seus pais. Como o libelo de uma garota de 13 anos, cuja mãe só pensava no "shape" que implorava "quero uma mãe gordinha". Lembram-se disso?
Desta vez é Mariana (nome suposto) de 19 anos que manda o e-mail. Fala também em nome do irmão, de 17. São filhos de pais separados e moram com a mãe, numa convivência até legal, segundo ela, mas que incomoda ambos. "Sabe, cara, meus pais agem como irmãos da gente, pedem pra chamá-los pelo nome e não admitem "pai" e "mãe". Concordo, meu, estão superbem, são jovens ainda, mas, caramba, são nossos pais..."
E Mariana segue contando que a mãe, de 42 anos quer ir com ela para a balada nos fins de semana e quando não vai, acaba cruzando com a jovem nos mesmos barzinhos freqüentados (deixou de ir por isso). E que o pai, de 45 faz parte de um conjunto e está se achando um garotão pelo modo de vestir e agir, além de impor uma namorada quase da idade dela. "Dá para sacar que a gente queria pais como os dos nossos amigos? Demorou, meu. Ou estou sendo injusta e...(usou um adjetivo não publicável). Mas não sou só eu, cara, as minhas amigas também estranharam a parada da minha mãe quando ela saiu com um carinha amigo e sei que zoaram por trás de mim. Morro de vergonha".
Esse é o típico sinal dos tempos atuais, um prato cheio para qualquer comportamentalista. Sem dúvida, faz parte da ciclicidade: enquanto nossos pais reclamavam da opressão sofrida em família, enquanto a minha geração se rebelava contra certas regras de horário - aí que a gente não estivesse em casa à meia noite e meia, no máximo, hora que eles saem hoje - e das imposições, os adolescentes atuais estranham o contrário. Por incrível que possa parecer, sentem falta de mando, de determinação, como disse bem, a psicóloga Rosely Sayão, numa matéria que deu o que falar, semana passada.
É absolutamente compreensível o conflito de Mariana e do irmão. O universo jovem existencial comprova que, apesar de tudo, a turma gosta de pais que se preocupem, que estabeleçam algumas regras, para poder discutir, até para ser quebradas Sentem-se amados, envolvidos no interesse, por mais que chiem. Por outro lado, há que se entender esses pais, ainda no auge do vigor e do desejo, que estão buscando seu caminho de prazer e realização; talvez, vivendo agora o que não viveram quando jovens, com certeza por terem se unido cedo demais.
Uma conclusão é clara por mais que tudo pareça virado de cabeça para baixo: pai e mãe são pais e não amiguinhos, muito menos, companheiros de balada. E os filhos têm enorme dificuldade de entender nessa linda adolescência que eles têm as mesmas necessidades, dúvidas e fraquezas. Para os filhos, os pais são modelos de força, segurança e apoio.
Só muito mais tarde, os filhos conseguem entender a idêntica fragilidade, aquela que domina a todos. Sempre digo que o fato de sermos pais, avós, bisavós, não nos tira a necessidade de continuarmos filhos, seres necessitados de proteção e de autoafirmação.
É quando outro tipo de encontro afetivo se faz: a troca de humanidades, resultado lindo e amplo do entendimento dessa idêntica fragilidade. Por enquanto, não dá.
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